Há dias, uma mentoranda partilhava comigo que tem 28 anos e sente que ainda não construiu nada. Não tem uma família própria, não é valorizada no trabalho, não tem independência financeira, uma casa ou sequer um periquito e sente-se completamente impotente. Eu compreendo. Acredite, eu compreendo.
Quando temos sete anos, só queremos ter 18, para finalmente termos a nossa liberdade. Aos 30 estamos muito atarefados com a família, o trabalho, numa correria e, aos 70, só queríamos voltar para trás.
Às vezes, nem sempre e nem todos, mas às vezes, paramos. Percebemos que estamos sem rumo, num circulo vicioso de movimentos repetitivos e atividades rotineiras, para as quais nem precisamos pensar. Só fazemos acontecer sem refletir muito nos porquês.
Subitamente, o passado parece-nos mais agradável. Olhamos para trás com saudosismo e vontade de que tudo fosse como antes. Lá estão pessoas, contextos, coisas e uma energia de que gostávamos tanto. Ah, como seria bom se pudéssemos viajar no tempo!
Acordamos!
É hora de pensar no futuro e a ansiedade dá-nos mais uma dose de adrenalina para continuamos na lufa-lufa do dia-a-dia. Na roda dos ratos. “E se não consigo esticar o dinheiro para pagar a máquina de lavar roupa que se avariou?”, “E se fico desempregado?”, “E se não conseguir presenciar o primeiro passo do meu filho?”, “Será que o meu marido ainda gosta de mim?”, “E se a minha irmã ficar chateada por não ir à festa de aniversário do meu sobrinho?”, “E se o meu patrão só me está a manipular com migalhinhas elogiosas para eu ficar até mais tarde?”, “E se…”, “E se…”
E o momento presente? Está a vivê-lo, ou só a usá-lo como almofada do passado e mola do futuro? Se lhe perguntar o que tomou ao pequeno-almoço esta manhã consegue responder em menos de três segundos? Se lhe perguntar sobre a última vez que foi realmente feliz, sabe dar-me uma resposta segura? Espero que sim. Significa que vive em presença, no momento presente. Com consciência, com lucidez, com atenção plena.
Se não conseguir, não se castigue. A maioria não consegue e está tudo bem. Tem agora esta chamada de atenção, que o poderá iniciar nestas lides. Comece pelo princípio. Autoanalise-se, verifique o que precisa mudar e ponha-se em marcha, para exercer as ações necessárias para que tal aconteça. Um passo e um dia de cada vez, com pequenas conquistas, erros, retrocessos e aprendizagens, como qualquer processo. Peça ajuda, se necessário. Mas siga em frente.
Lembre-se de respirar. E tenha em mente que não se trata do destino, mas sim do caminho que percorre até lá chegar.
Tem toda uma vida para construir e não há nenhuma lei que diga que aos 20 tem que ter, ser ou fazer isto, aos 50 aquilo e aos 80 aqueloutro. Está sempre a tempo de (re) começar. Sabe quando já não dá? Só mesmo depois da morte, portanto, se está vivo, alegre-se, arregace as mangas e vá fazer acontecer!
Caiu? Levante-se. Está cansado? Descanse. Está desmotivado? Discipline-se. Sente-se sozinho? Compre um cão. Como vê, se há vida e saúde, há sempre, mas sempre, uma solução. E mais uma. E mais outra. Persista!
Pare de viver no passado, ele não existe! Pode olhar para lá, de soslaio, para ir buscar aprendizagens e memórias, ponto. Pare de viver no futuro, ele não existe! Pode espreitar para lá, para definir objetivos, saber onde quer chegar, organizar e planear com parcimónia, ponto. E viva o agora, ele é um presente e é tudo o que há!
O que vai fazer?