O Linkedin é uma rede social peculiar. Já tinha ouvido falar nela, mas tinha a ideia que era só para executivos e pessoas inalcançáveis.
Foi em Setembro de 2017 que, desanimada com a minha situação profissional, decidi criar um perfil no Linkedin. Muito diferente do que é hoje, mas o mais completo possível. A seguir fiquei à espera que surgissem propostas de emprego, afinal o meu currículo já estava on-line, alguma coisa havia de acontecer. Só que não. Alguns meses depois, comecei a entrar na rede para procurar emprego no ícone da “malinha” e continuei a minha busca da forma tradicional: resposta a anúncios, envio de currículos, idas a entrevistas e so on. Mais do mesmo, portanto.
Afinal, esta rede não fazia magia, como alguns por aí pensavam e diziam. Mas, persistente como sou, decidi instalar a aplicação no telemóvel e tornar o Linkedin na minha rede social de eleição. Assim, fui entrando diariamente na rede, percebendo como funcionava, quem eram as pessoas de destaque e que tinham que fazer parte das minhas conexões, consumindo conteúdo do meu interesse e observando.
Para fazer um pedido de conexão demorava horas ou dias, tinha muito medo de ser invasiva ou rejeitada, não estava ambientada com a forma como a rede funciona e deixava-me dominar pela timidez. Mas enfrentei ao meu ritmo, com calma e coragem. Com o passar do tempo foi cada vez mais fácil aumentar a minha rede, ainda pequena. O conteúdo que consumia incluía dicas e experiências sobre o funcionamento do Linkedin, por isso ia melhorando o meu perfil, a forma de interagir com as minhas conexões via mensagem privada, mas continuava a ser uma observadora. Por vezes via posts ou artigos que me motivavam a opinar, mas nunca na vida o faria! Expor-me dessa forma? Mas é que nem pensar! Chegava a enviar mensagens privadas aos autores para os parabenizar, mas a exposição pública aterrorizava-me.
Continuei como observadora por uns meses e, a dado momento, interagi num post com um comentário. Era a minha primeira vez! Passados dois minutos apaguei-o, não fosse alguém saber que eu existia! Que pânico! Umas semanas mais tarde vi um post interessante e com muita atenção ao texto que escrevi, comentei-o. Tinha vontade de dar a minha opinião, porque não fazê-lo ora bolas?!? Pumba, carreguei no botão e não me permiti voltar atrás. Esse meu cometário teve vários likes e outros comentários elogiosos. Foi aquele momento: “oh darling, and if you fly?” Estão a ver? Foi a motivação que precisava para continuar. E continuei, agora de uma forma mais ativa e participativa.
Consumia muito conteúdo, lia muitas histórias e lembro-me que as pessoas mais inspiradoras para mim, na altura, foram a Laís Schulz, o Matheus de Souza ou a Flávia Gamonar (só para citar alguns), que contam, através de vários dos seus artigos, como esta rede impulsionou as suas carreiras e funciona de facto. E pensava: se funcionou com eles, porque não comigo? Mas jamais seria capaz de fazer o que eles faziam e como faziam. A nível nacional, destaco o Pedro Silva-Santos que, apesar de não se focar exclusivamente no Linkedin, incentiva sempre a pensarmos em coisas que podemos fazer e de forma diferente para atingirmos objetivos. Não sendo especialista de recursos humanos ou de recrutamento, o Pedro é muito inspirador pela forma como partilha as suas experiências e maneira de fazer as coisas.
Uns tempos depois, decidi publicar um ou outro post com mensagens motivacionais “só para aparecer”. Só para verem que afinal eu existia e ver o que acontecia. Nada. Precisava muito de uma mudança a nível profissional. Decidi pedir ajuda a uma gestora de carreira que, a meio do processo, me incentivou a começar a produzir conteúdo no Linkedin. No fundo, naquele momento, eu já sabia que esse era o caminho, mas não queria aceitar que seria capaz e que era uma alternativa. Mas, naquela fase, já estava disposta a tudo e, mais uma vez, enfrentei.
Como dizem os especialistas e bem, publicar só por publicar não faz qualquer sentido. O meu objetivo era claramente deixar de procurar e passar a ser encontrada. Além disso, afirmar-me como especialista na minha área de formação para que pudessem surgir novas propostas de trabalho. Por outro lado, o meu conteúdo teria que ter sempre um propósito muito claro na minha mente, ter uma utilidade para os leitores, ser uma coisa bem estruturada. Para quem acha que publicar é fácil, desengane-se. As ideias não brotam como cogumelos e as palavras não surgem por obra e graça do Espírito Santo! Foi preciso pensar bastante, enfrentar os meus queridos sabotadores. Foram precisas, literalmente, noites sem dormir! E sobre o processo criativo dos conteúdos fico-me por aqui para não me alongar demasiado, mas há muito mais sobre essa empreitada. Se o processo é o mesmo com toda a gente? Certamente não, mas, mesmo assim, mais uma vez vos digo: desenganem-se se acham que produzir com qualidade e eficácia é simples, rápido ou leve.
Mas eu tinha duas grandes vantagens a meu favor: 1. gostava de escrever e fazia-o frequentemente por questões profissionais e académicas; 2. sempre acreditei que através da educação e do espírito de partilha todos podemos ser mais e melhor. Então, foi “só” uma questão de estruturar as ideias e ganhar coragem para enfrentar o escrutínio público. E lá fui.
Uma série de rubricas foram-se formando na minha mente. A primeira a ser lançada foi a “Sabias que…”, que pretendia ser uma forma de elucidar as pessoas sobre termos e temas de turismo e cultura portuguesa. Começou por ser publicada duas vezes por semana, às segundas e quartas. O seu primeiro post foi a 05.11.2018.
Como gostava de escrever longo, também comecei a publicar artigos maiores à terça-feira. Na rubrica “Artigos” permito-me escrever sobre o que quero sem muita rigidez, embora tenha temas de eleição, que são os meus interesses: turismo, cultura, atendimento, desenvolvimento pessoal, formação profissional, filmes, livros e por aí. Nos meus artigos tento sempre trazer algo mais sobre o tema tratado, mas, por vezes, apenas gerar uma reflexão ou entretenimento.
Como gosto muito de filmes, na altura criei uma rubrica em que partilhava sugestões de filmes, mas que, com o passar do tempo, deixou de me fazer sentido. Criar uma estratégia também tem destas coisas, é preciso testar e perceber o que se encaixa. Nesta recuei e passei-a para os artigos caso pretendesse falar de filmes.
Algumas ideias ficaram, ainda, a amadurecer e fui tendo alguns likes. Poucos. Alguns comentários que me deixavam muito feliz e que respondia sempre com zelo e gratidão. Lembro-me que o primeiro artigo em que tive partilhas, o “As cinco piores desculpas para não ler”, foi super importante para mim, não só porque tive feedbacks muito positivos, mas porque sentia que realmente estava a acrescentar algo ao leitor. As partilhas foram a confirmação de que realmente o produto tinha sido bem concebido e fazia sentido a outras pessoas! Uhuh! Fui continuando a produzir e a publicar, a interagir com a minha rede e, aos poucos, a sentir-me um pouco mais “fortalecida”. Já não tinha tanto medo de publicar, do que os outros iam achar sobre o que eu tinha escrito ou de parecer ridícula. O que eu acrescentava à vida do outro, nem que fosse só um, era superior a tudo isso!
No final de Dezembro tive a minha primeira proposta de trabalho via mensagem privada no Linkedin. Consegui exatamente a proposta que queria na altura e não vos digo isto por dizer. Foi exatamente a proposta que eu queria! Mas não parei porque consegui o que queria, até porque esta proposta não era o fim em si, mas uma forma de me catapultar para outros objetivos.
Em Janeiro de 2019 soltei a rubrica “Dicas de atendimento”, pois sentia necessidade de partilhar a minha experiência de tantos anos a trabalhar e a ensinar este tema. Decidi que seria leve e divertida, baseada em histórias reais e conseguiria, desta forma, passar a minha mensagem. A sua publicação seria semanal, à quarta-feira, pelo que ajustei a “Sabias que…” para uma vez por semana, à segunda-feira. Já estava com a publicação semanal de dois posts e um artigo.
No início de Março surgiu a segunda proposta de trabalho. Esta decorre de uma resposta a uma candidatura, à qual não fui aprovada no final do ano anterior. Como as coisas não correram bem com a pessoa que foi selecionada, o director da empresa decidiu ligar-me porque, segundo as palavras dele, acompanhava o meu trabalho no Linkedin e apreciava-o bastante. Esta proposta era exatamente o que precisava e muito semelhante ao que queria.
Parei de publicar? Não. E porquê? Porque, como os especialistas dizem e hoje percebo, não é só quando não temos trabalho que temos que fazer por nós, trabalhar a nossa marca pessoal ou manter um networking ativo. É agora e sempre! Além disso, porque me dá prazer. Se dá trabalho ou rouba tempo? Sim, mas se me dá prazer e me tem trazido retorno, porquê parar? Há pessoas que fazem surf, há pessoas que fazem croché, há pessoas que cozinham por prazer. Eu escrevo.
Entretanto, continuei a receber outros contactos com propostas de emprego e a abordagem já era muito diferente daquilo a que estava habituada. As pessoas nem me diziam para ir a entrevistas, mas sim que queriam marcar uma reunião. Estão a ver a diferença? Outras oportunidades surgiram. Umas resultaram, outras nem por isso, mas a verdade é que o objetivo de deixar de procurar e passar a ser encontrada estava mais do que atingido!
Em Junho lancei a rubrica “Os Incógnitos do Turismo de Portugal”, que é uma rubrica que surge da vontade de dar a conhecer as funções que se podem assumir na área do Turismo. Por outro lado, e mais importante, homenagear alguns dos melhores profissionais de sempre. Tem publicação quinzenal à terça-feira. Ajustei, então, os artigos para publicação quinzenal, mantendo o dia da semana. Além disto, se tiver alguma partilha interessante ou quiser assinalar uma data específica, também crio, sem grande rigidez quanto ao dia de publicação, o que chamo de “posts soltos”.
Ao longo deste ano preocupei-me em aumentar a minha rede, para que o meu conteúdo tenha mais alcance e chegue a cada vez mais pessoas. Envio sempre, sempre uma mensagem de agradecimento por aceitarem o meu pedido de conexão. Quando os pedidos de conexão me são dirigidos, envio sempre, sempre uma mensagem de boas vindas. Ao ser abordada com dúvidas ou questões respondo com todo o gosto e ajudo sempre no que está ao meu alcance. Tento sempre que as minhas interações noutros posts acrescentem valor à discussão. Não comento por comentar, se a publicação não me suscitar grande opinião, simplesmente não comento. Nunca deixo os meus seguidores sem resposta, a não ser que sejam, de alguma forma, inconvenientes. Passo HORAS na rede por dia e encaro isso como trabalho.
Se analisar as métricas habituais: likes e nível de engagement, os meus resultados não são nada de extraordinário, mas como não sou nada dada a números ou show offs, isso não me incomoda nada. Atenção, não sou hipócrita, é claro que eu gosto de ser lida. Como costuma dizer o querido Rodnei Silva, o objetivo de qualquer produtor de conteúdo é ser lido! Mas o que quero dizer é que não é isso que determina se vou continuar ou não, se estou a ter resultados ou não. Serve, essencialmente, como elemento motivador e,acreditem, motiva mesmo. A fazer mais, a continuar, a dar, a entregar, a perceber que faz sentido.
Os objetivos vão sendo outros e a estratégia vai sendo ajustada, nada é estanque, mas tudo é feito, pelo menos no meu caso, sempre com decisões muito conscientes. Sou muito disciplinada e nunca deixo a escrita para a “última hora”, escrevo sempre com antecipação, de forma organizada, consistente e permanente.
Por isso, caro leitor, o Linkedin funciona sim. Se começar por investir no seu autoconhecimento. É preciso perceber as suas vantagens estratégicas e o que vai funcionar melhor de acordo com os seus objetivos, gostos e conhecimentos. Vai funcionar se se der ao trabalho! Se ousar fazer! Se enfrentar os seus fantasmas! Se der o primeiro passo, insistir e persistir! Se for resiliente! Se for disciplinado! Se tiver espírito de entrega!
Quantas e quantas pessoas já vi virem e irem desta rede ao longo deste ano? Aparecem, escrevem uns quantos posts, começam a interagir, mas, depois, não têm resultados ou percebem como é trabalhoso e desaparecem. Ah, não funciona! Funciona sim! Se agir com estratégia e trabalhar (muito) para isso!
Se não há casos de insucesso? Pessoas que se esforçam muito e não têm resultados? Podem haver sim. Nesse caso vale a pena analisar o que poderá ajustar. Existem uns quantos especialista que o podem ajudar nisso, com sessões de mentoria especializada e personalizada. Para citar só alguns, os que mais me têm ajudado, mesmo sem saber, tem: o Pedro Caramez, a Karla Martins ou a Flávia Gamonar. Eles têm, também, muito conteúdo gratuito que o pode ajudar a começar.
Se vou ficar lá para sempre ou por quanto tempo vou ficar nem eu sei dizer, mas, por agora, pode ter a certeza, ainda só estou a começar. Neste último ano consegui propostas de emprego, novas perspetivas de vida, adquiri muito conhecimento, conheci pessoas muito queridas e parcerias estratégicas muito proveitosas.
E é isto. Espero que esta partilha o inspire a usar a rede de forma ativa e participativa, a perder os seus medos, a enfrentar os seus fantasmas. O Linkedin é interessante e já ajudou muitas pessoas pelo mundo fora, eu incluída!
E você, costuma usar o Linkedin?
Costuma comentar ou está só à espreita?
Vá lá, solte cá para fora a sua opinião, vou gostar de saber!